Sarcófago romano esculpido é encontrado em Cesareia

Em Cesareia, cidade histórica localizada na costa de Israel, arqueólogos da Autoridade de Antiguidades de Israel (IAA) revelaram um achado notável: um sarcófago romano de mármore, meticulosamente esculpido e datado de aproximadamente 1.700 anos. Esta peça, a primeira do tipo encontrada na região, apresenta uma cena rica em simbolismo, onde a mitologia e os rituais funerários se entrelaçam de maneira fascinante.

Uma obra romana rara e mitológica

O sarcófago mostra uma cena inusitada e carregada de simbolismo: uma disputa de bebidas entre Dionísio (Baco) — o deus do vinho — e o semideus Hércules, conhecido por sua força sobre-humana. Ao centro, Dionísio aparece triunfante, cercado por uma comitiva vibrante composta por sátiros, mênades, feras selvagens como leões e tigres, e até o deus Hermes. Já Hércules, figura central em tantos mitos de coragem e superação, surge cambaleante, vencido pelo excesso de vinho, em um retrato curioso e satírico de fragilidade.

Segundo Nohar Shahar, arqueólogo da IAA envolvido nas escavações, a cena tem uma leitura dupla: além de representar uma celebração da vida, o cortejo de figuras míticas ao redor de Dionísio pode estar simbolizando a agem do falecido para o além, guiado por deuses e criaturas mitológicas. “É como se a morte fosse aqui representada não como uma ruptura, mas como um ritual de transição — alegre, irreverente e profundamente espiritual”, explicou.

Sarcófago romano esculpido é encontrado em Cesareia
Foto: Emil Aladjem, Autoridade de Antiguidades de Israel

Dionísio e a ideia de morte como libertação

A escolha por Dionísio como figura central não é aleatória. Para os antigos romanos, o deus do vinho estava associado à libertação da alma, ao êxtase e à transcendência. A embriaguez, nesse contexto, não era apenas um estado físico, mas também uma metáfora para a libertação do corpo e a jornada rumo à imortalidade. Assim, o sarcófago parece encenar mais do que uma festa: uma cerimônia simbólica de agem para outra existência.

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A representação de Hércules, por sua vez, parece inverter a lógica dos mitos tradicionais. Em vez de vitorioso, ele é mostrado vulnerável, incapaz de resistir à força do vinho. Essa inversão narrativa sugere uma crítica bem-humorada ou, quem sabe, uma reflexão filosófica sobre os limites do poder humano diante do divino.

Conclusão

O sarcófago encontrado em Cesareia vai muito além de um objeto funerário. Ele abre uma janela para a visão romana da morte como continuação — não de forma solene, mas através de uma celebração simbólica marcada por música, dança e vinho. Ao retratar uma festa mítica onde o herói sucumbe e o deus celebra, ele nos convida a refletir sobre a impermanência da vida e a possibilidade de um outro recomeço — não no mundo dos vivos, mas no território insondável da eternidade.

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